sábado, 28 de novembro de 2009

UM PÉSSIMO PREFEITO

Janeiro de 2001. Corriam os primeiros dias do meu mandato, quando um servidor municipal, cujo nome não me recordo, abordou-me logo cedo na entrada da prefeitura. Desesperado, pediu-me para transferi-lo para outro setor porque não suportava mais tomar conta do prédio da piscina municipal, dominado por rapazes que à noite ali se drogavam. Não demorou muito para que o Bertinho, presidente da ABASC, me relatasse, aflito por uma solução, como gangues de jovens haviam tomado não só a praça da piscina, mas a dos Voluntários e a que fica ao lado do poço artesiano do SAAE no centro, transformando aquela região em uma cracolândia sãocarlense.

Conto esses episódios apenas para ilustrar uma realidade que era visível não só na Baixada do Mercado, mas que se espalhara por toda a cidade. Nossas crianças e adolescentes estavam abandonados. Quem não se lembra dos flanelinhas da praça XV, das crianças pedindo esmola nos cruzamentos e de rapazes que se amontoavam nas portas dos restaurantes para implorar um prato de comida?

Era preciso enfrentar com urgência essa gravíssima situação. Pedi à Rose Mendes, vice-prefeita e secretária de Cidadania; ao Carlos Martins, secretário de Governo; e ao Ricardo Martucci, secretário de Desenvolvimento Urbano; que analisassem o problema e suas causas e apresentassem soluções articuladas nas dimensões econômica, social e ambiental. Ela, porque conhecia a fundo o assunto, uma vez que, como militante de movimentos sociais, dedicara sua vida à lutar pelos direitos das crianças e dos adolescentes e também contra o descaso do poder público até então.

Eles, arquitetos e professores da USP São Carlos, para contribuírem com soluções que minimizassem a violência e revertessem o processo de degradação urbana até então em curso em nosso município.

Com a marca do governo participativo, foram ouvidas autoridades e especialistas, com destaque para o Padre Agnaldo, dos Salesianos, outro expoente da mesma causa que, revoltado com a forma com que eram tratados os meninos em conflito com a lei, idealizou o nosso premiado NAI, levando do papel para a prática as medidas sócioeducativas estabelecidas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Nasciam ali, pela primeira vez na história da cidade, duas políticas públicas interligadas, exitosas e premiadas: o Plano Municipal Integrado de Segurança Pública e uma rede de proteção e promoção da infância e da juventude, materializada em programas de inclusão econômica e geração de oportunidades educacionais, profissionais, esportivas e culturais, respaldados em decisões dos respectivos conselhos municipais.

Com a eleição do presidente Lula, nossas ações locais ganharam maior abrangência, superando as limitações do erário municipal e permitindo que perenisássemos a priorização de recursos para a área com aprovação, na Câmara, do Orçamento da Criança e do Adolescente (OCA).

Por tudo isso, compartilho com toda a minha equipe, vereadores comprometidos e os atores da sociedade civil envolvidos, o reconhecimento que São Carlos recebeu no estudo realizado pelo Ministério da Justiça e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Termos conquistado, com dados de 2006, o menor índice de vulnerabilidade juvenil do país, nos orgulha e emociona. Associado à menor mortalidade infantil do estado de São Paulo em 2008, então, dá sentido e coroa nossa vida pública. Nada mal para quem, nas palavras do nosso despeitado governador, foi um “péssimo prefeito”.

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