sábado, 15 de maio de 2010

CORPO ESTRANHO


Formar profissionais com qualidade, concomitante à implantação do próprio curso, é como trocar a roda do carro com ele em movimento. Exige coragem, determinação, vontade política, ousadia, recursos e negociação, muita negociação. Mas acima de tudo UNIÃO e jamais RESIGNAÇÃO.


Fui o primeiro professor contratado para implantar o curso de Engenharia Química da UFSCar. Quando aqui cheguei, em dezembro de 1977, 30 alunos da primeira turma, aprovados no vestibular do meio daquele ano, aguardavam com natural expectativa e ansiedade. Afinal, praticamente tudo estava por ser construído em uma universidade com apenas sete anos de vida: montagem de um projeto pedagógico inovador e do seu currículo escolar, contratação de professores e técnicos, aquisição de acervo, projeto e construção de laboratórios e organização dos estágios profissionais. Os obstáculos eram muitos e pareciam insuperáveis. Contudo, anos depois, os recém-formados engenheiros químicos da UFSCar estavam todos bem empregados num curso que, aperfeiçoando-se a cada ano, tornou-se referência nacional. Exemplo isolado? É claro que não. Cada curso novo criado tem sua própria história de contratempos e dificuldades. Mas, ao fim e ao cabo, em se tratando da UFSCar, o êxito é inexorável. Por isso ela é uma das dez melhores universidades do Brasil.

Assim foi, assim é e assim será também com a Medicina. Por isso, é preciso enaltecer a mobilização dos alunos e as ações do corpo docente e da Reitoria para superar o problema do internato. A despeito de equívocos, deslizes e divergências próprias de um momento como este, a comunidade interna, cada segmento a seu modo e fazendo jus à tradição democrática da UFSCar, está trabalhando para que o indispensável internato seja resolvido com brevidade, o projeto pedagógico e inovador consolidado e a qualidade da formação das primeiras turmas garantida.

Mas há uma peculiaridade neste caso que não pode ser ignorada: o OPORTUNISMO. Não sou médico, mas sei que quando um organismo se encontra com baixa resistência, bactérias e vírus deitam e rolam, complicando e atrasando a recuperação do paciente.

Alguns deles fazem parte do próprio meio de cultura universitário. Estão sempre prontos a atacar para tirar proveito próprio e, geralmente, se dão mal. Os oportunistas mais perigosos são os exógenos, porque têm por objetivo destruir o corpo em que se alojam.

Todos sabemos que, desde o início, a criação do Hospital-Escola e do curso de medicina da UFSCar têm enfrentado inimigos ferrenhos: alguns médicos da cidade que querem garantir reserva de mercado, outros que tentam conter o avanço da saúde pública e lideranças partidárias oposicionistas que operam subterraneamente para sabotar o projeto, enquanto, com a maior cara-de-pau, se solidarizam publicamente com os estudantes. Quanto cinismo e desfaçatez.

Mas os alunos não são bobos, não se deixam instrumentalizar e lutam com bravura pelos seus direitos sabendo quem são seus verdadeiros aliados.

Para os corpos estranhos, nem doses cavalares de antibióticos e antivirais serão capazes de debelar suas enfermidades morais.

2 comentários:

  1. Caro Professor Newton Lima

    Sobre o seu comentário supracitado achei extremamente infeliz.
    Moro em Sao Carlos desde a minha infancia, nao gosto de me meter em política. A minha única atividade politica é o exercício do meu direito ao voto. Sou médico do servico público e do servico privado em Sao Carlos.
    Colocar a culpa da falta de profissionais da saude para atuar juntos é no mínimo um absurdo. Creio que a política de baixos salários e valores aviltantes pagos pelo SUS aos médicos no exercício de suas atividades laborais é o principal responsável pelo sucateamento do SUS. Enquanto um Juiz recebe pelo menos trinta mil reais para exercer sua funcao, um medico especialista recebe aproximadamente 1700 reais para exercer sua funcao. Claro que se comparado ao salario minimo este valor é importante, mas se contar o grau de especializacao para um médico com especializacao exercer suas funcoes esta bem abaixo do minimo necessario. Nao [e justo que o médico pessoa física, cidadao, tenha que arcar com o dever do Estado.
    Em relacao ao internato medico pelo que sei, me corrija se estiver errado, foi feito um acordo no qual a prefeitura pagaria 100 reais por 16 horas que os plantonistas ficassem com os alunos, ou seja 6,25 reais a hora que fossem ensinados. Mesmo assim apesar dos médicos aceitarem essa proposta ela nao foi honrada. os médicos nao foram pagos pelo servico.
    Por favor nao nos culpe pelos erros de outros. Nao somos virus, somos cidadaos atentos aos atos dos nossos politicos com ficha suja e com ficha limpa.

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  2. Caros amigos, agradeço os comentários e respeito democraticamente o direito de vocês às críticas. A solução para a questão do internato deve vir com bom censo. Ela virá e já poderia ter acontecido antes caso parte da oposição local não trabalhasse contra isso e se aproveitasse politicamente da situação. Nós buscamos sempre construir soluções para qualquer tipo de impasse, jamais o contrário. Já a referência feita na última linha do segundo comentário é equivocada e sugiro uma releitura do artigo, porque a referência sobre vírus não é para os alunos. Abraços!

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