quinta-feira, 3 de setembro de 2009

DIREITOS HUMANOS

Lineu Navarro, eu e Paulo Vannuchi

(ministro da Secretaria Especial do Direitos Humanos)


5 DE AGOSTO, QUARTA-FEIRA – O pedreiro Ademir Peraro, 43 anos, é espancado por dois seguranças dentro da loja da rede Dia de supermercados, em São Carlos. Segundo um dos seguranças, que já tinha passagem na polícia por agressão, Peraro havia furtado um pacote de coxinhas congeladas, um queijo e tubos de cremes. Socorrido pelo SAMU, não resistiu aos ferimentos e faleceu na Santa Casa. O laudo do IML apontou que Peraro morreu devido a politraumatismo e hemorragia interna. O valor dos produtos furtados era de R$ 26,00.

24 DE AGOSTO , SEGUNDA-FEIRA – Ao lado do ilustre convidado Paulo Vannuchi, Ministro de Estado da Secretaria Especial dos Direitos Humanos do Governo Federal, o prefeito Oswaldo Barba e o presidente da Câmara Lineu Navarro, descerraram a placa da Rua Dom Hélder Câmara na Vila Marina. Resultado da iniciativa do ilustre vereador e contando com o apoio unânime dos demais edis e da expressiva maioria dos moradores da até então Rua Sérgio Paranhos Fleury, o ato sepultou um dos fatos mais indignos da história de São Carlos: a execrável homenagem que o poder público municipal fizera em 1980, em plena ditadura, a um torturador. Das trevas nasceu a luz. O logradouro passou a ser conhecido pelo nome de um dos mais honrados brasileiros que, por sua luta em favor dos oprimidos do estado de direito e da democracia, Dom Hélder, recebeu reconhecimento internacional. A homenagem do poder público municipal ao “Dom da Paz”, no ano em que se comemora o centenário do seu nascimento, transcende a mera alteração toponímica. Significa, nas palavras do eminente jurista Fábio Konder Comparato enviadas ao companheiro Lineu, “...livrar a cidade da ignomínia de ter uma de suas vias públicas manchada com o nome de policial ligado ao tráfico de entorpecentes e que se notabilizou pela violência ensandecida contra opositores da ditadura militar”. E, ainda, nas palavras do Ministro Vannuchi: “O fato merece ampla divulgação nacional. Por onde for, direi que São Carlos dá um exemplo a ser seguido por outros municípios brasileiros”.

26 DE AGOSTO, QUARTA-FEIRA, – Acompanhado de minha esposa Ana, visitei o líder sindicalista Élio Neves no hospital em Araraquara. Recuperando-se milagrosamente do atentado de que fora vítima no domingo anterior no seu sítio em Ribeirão Bonito e sentindo os efeitos da bala alojada em sua nuca, Élio, com o brio dos grandes guerreiros, brincou com a situação dizendo que seus algozes não levaram em conta que ele era um “cabeça dura”. Retomando a seriedade com a clareza de quem há décadas luta pelo direito à terra dos trabalhadores rurais e enfrenta a violência do campo em nosso estado, reafirmou-nos sua não intimidação frente à tentativa de execução sofrida e a disposição de continuar lutando pela reforma agrária. Portador dos votos de solidariedade do prefeito Oswaldo Barba e dos companheiros do PT de São Carlos, compartilhei com Élio a expectativa de que as autoridades policiais possam elucidar rapidamente o acontecido e os responsáveis capturados – diferentemente do que aconteceu no caso dos sindicalistas sãocarlenses José Luiz e Rosa Sundermann -, cujos tenebrosos assassinatos, passados 15 anos, não foram até aqui esclarecidos.

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Três episódios que, no presente e no passado, demonstram a imperiosa necessidade de mantermos viva a luta pelos sagrados direitos humanos.

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